Análise: Maria Madalena
Não sei se deveria colocar “Spoiler” no titulo, pois acho que é uma historia que todos conhecem, e caso não conheçam, recomendo não ler a resenha.
Quem me conhece, sabe que não sou muito chegada no cristianismo em geral, porém, vi a recepção super positiva do filme pela critica no exterior, então minha curiosidade falou mais alto.
Há todo um mito e conspirações a cerca de Maria Madalena: a discípula preferida, amante de Jesus, mãe da Sara Kali e coisas que nunca saberemos as respostas com clareza e esse tipo de coisa que me fascina na historia no geral, pois nunca teremos uma certeza dos fatos, ainda mais em épocas tão remotas, enfim.
No longa, Maria não é retratada como prostituta, mas sim como uma pescadora, que ao se recusar a casar, ela é tida como possuída, então depois de um exorcismo forçado e humilhante, seu estado de espirito foi destruído, aí que entra Jesus, que não tenta exorciza-la novamente, ele apenas ouve seu lamento. Ela o vê novamente pregando para os moradores de sua aldeia, e o brilho do olhar de Maria olhando para o “curador”, da pra perceber que floresce algo dali.
O resto da historia, basicamente todos já conhecem, mas o ponto alto do filme é a perspectiva feminina da personagem sobre o messias, ela o vê como um homem além do “escolhido por deus para trazer fogo e sangue aos inimigos do nosso povo”, sendo que seus outros apóstolos o vêem como um vingador “fogo e sangue”, já que é uma frase muito repetida por eles ao longo do filme.
Além de tudo, ela precisa lidar com o machismo da época, o ciumes dos apóstolos também fica bem evidente, porém, Maria se torna mais que uma seguidora, ela vira uma amiga de Jesus, em que determinados momentos, ele pede consolo a ela, de um jeito próprio dele. Da pra ver também, uma tensão sexual os rondando durante o filme, tudo muito sutil, claro, pois a intenção da historia não é ser algo polêmico.
Agora vamos aos aspectos técnicos dessa linda obra. A fotografia do filme é de tirar o folego, cada cena parece ter sido tirada de um quadro, e quanto a trilha sonora podemos ouvir o canto religioso, contudo, o ponto-chave é durante os momentos tensos da trama, como se Maria tivesse um “sexto sentido feminino” e pudesse sentir o que está por vir, além disso, muitas cenas do filme são baseadas em arte sacra, o que na minha opinião, foi genial.
Outro ponto interessante que foi acrescentado são alguns diálogos, que deram um tapa na cara do conservadorismo e hipocrisia das instituições religiosas de hoje em dia, mas se foi proposital ou não, não tenho certeza. Mesmo Jesus sendo branco de olhos verdes, ele não tem um aspecto delicado, igual a outros atores que pegaram esse papel anteriormente. Neste filme, ele está bem rústico, até suas mãos parecem ásperas, dando aquele aspecto de carpinteiro mesmo.
Quanto a atuação, Rooney Mara está incrível no papel de Maria Madalena, ela conseguiu transmitir a personagem como uma mulher forte, que luta pelo que acredita e não abaixa a cabeça para o que acha errado. Judas é bem desconstruído durante o filme, ele perde o posto de traidor e manipulador, para alguém que tinha esperanças até demais. E indo para os outros apóstolos, eles têm uma história bem construída, cada um tem uma personalidade marcante, mesmo que alguns mal apareçam durante o filme. O elenco em si, é bem miscigenado, o que achei ótimo para uma história que se passa no Oriente Médio. Pedro, por exemplo, é representado pelo Chiwetel Elijofor (que fez 12 Anos de Escravidão).
Para assistir ao filme, recomendo tirarem o preconceito e o dogma religioso da historia, para que possam ver como um conto sobre poder feminino na antiguidade e também, por que não como uma historia de amor?